Patrística 190 - 215 d.C.

Discurso de exortação aos gregos

Por: Justino Mártir (Saint)
Defende a fé cristã diante da filosofia grega, mostrando que Moisés e os profetas precedem e superam Platão e Homero, e anuncia a vinda de Cristo como verdade revelada por Deus.

Conteúdo da Obra

Capítulo 1 — Razões para dirigir-se aos gregos

Ao iniciar esta exortação a vós, homens da Grécia, peço a Deus que me conceda saber o que devo dizer, e que vós, libertando-vos do costume de discutir e do erro de vossos pais, possais agora escolher o que é útil. Não penseis que cometeis ofensa contra vossos antepassados, ainda que as coisas que antes consideráveis sem proveito agora vos pareçam boas.

Pois uma investigação cuidadosa, buscando a verdade com olhar mais profundo, muitas vezes revela que aquilo tido por excelente é de natureza bem diversa.

Já que pretendemos falar sobre a verdadeira religião — a qual, creio, nada há de mais precioso para quem deseja viver sem perigo, por causa do juízo que se seguirá ao fim desta vida — e que foi anunciada não só por nossos antepassados segundo Deus, isto é, os profetas e legisladores, mas também por alguns entre vós tidos como sábios, não apenas poetas, mas filósofos que diziam ter alcançado o conhecimento divino e verdadeiro, parece-me justo examinar primeiro os mestres da religião, tanto os nossos quanto os vossos: quem foram, quão grandes foram e em que tempos viveram.

Assim, aqueles que receberam de seus pais uma religião falsa poderão, ao compreender isto, libertar-se do erro antigo, e nós poderemos demonstrar clara e abertamente que seguimos a religião de nossos antepassados segundo Deus.

Capítulo 2 — Os poetas são incapazes de ensinar religião

A quem, pois, ó gregos, chamais mestres da religião? Aos poetas? Isso não servirá de argumento diante de quem conhece os poetas, pois sabem quão ridícula é a teogonia que compuseram — como se vê em Homero, o mais ilustre e príncipe dos vossos poetas. Ele afirma primeiro que os deuses tiveram origem na água, escrevendo:

“Oceano, origem dos deuses, e sua mãe Tétis.”

E devemos lembrar o que ele diz sobre aquele que considerais o primeiro dos deuses, o “pai dos deuses e dos homens”:

“Zeus, dispensador da guerra aos homens.”

Diz ainda que Zeus não só distribui a guerra, mas foi causa de perjúrio entre os troianos por meio de sua filha; e o apresenta apaixonado, queixoso e enganado pelos outros deuses. Num momento exclama sobre seu filho:

“Ai de mim! Cai aquele que mais amava,
Sarpédon, vencido por Pátroclo.
Assim o decidiram os fados.”

E noutra passagem, lamentando Heitor:

“Ah! Vejo um guerreiro querido,
em torno dos muros de Troia, perseguido;
por Heitor, eu me condoo.”

Quanto à conspiração dos deuses contra Zeus, Homero narra:

“Quando os outros olímpicos — Juno, Netuno e Minerva — desejaram amarrá-lo.”

E, se os deuses não temessem Briareu, chamado “o forte”, Zeus teria sido amarrado.

Homero também descreve seus amores desregrados, fazendo Zeus dizer a Juno:

“Jamais deusa ou mulher despertou em mim
tão forte amor.
Nem a esposa de Íxion, nem a doce Danae,
nem a filha de Fênix,
nem Sêmele, nem Alcmene que gerou Hércules,
nem Ceres de cabelos dourados,
nem Latona celeste —
nem tu mesma como agora te amo.”

Homero ainda mostra os sofrimentos dos outros deuses às mãos dos homens. Relata que Marte e Vênus foram feridos por Diomedes e que Dione consola sua filha:

“Suporta, filha querida.
Também nós, que habitamos o céu,
sofremos muito por causa dos mortais.
Marte foi preso treze meses em grilhões de bronze;
Juno ferida pelo filho de Anfitrião;
Plutão também, ferido às portas do inferno,
gemeu e subiu ao Olimpo.”

E se for preciso lembrar a batalha entre os deuses, o próprio poeta vos conta:

“Tal foi o embate quando deuses lutaram:
Netuno contra Apolo,
Palas contra Marte,
Juno contra Diana,
Hermes contra Latona.”

Estas coisas ensinou Homero — e também Hesíodo.

Logo, se credes nos vossos mais famosos poetas, que traçaram as genealogias dos deuses, deveis admitir que os deuses são tais seres ou, então, que não existem deuses algum.

Capítulo 3 — As opiniões da escola de Tales

E se recusais citar os poetas, dizendo que lhes é permitido criar mitos e narrar de forma fabulosa muitas coisas sobre os deuses que estão longe da verdade, quem, então, considerais vossos mestres na religião? Ou de quem dizeis que aprenderam essa vossa crença? Pois é impossível que alguém conheça coisas tão grandes e divinas sem antes tê-las aprendido dos iniciados.

Direis, sem dúvida: “Os sábios e filósofos.” É a eles que recorreis, como a um muro fortificado, quando alguém cita as opiniões dos vossos poetas sobre os deuses. Portanto, convém começar pelos mais antigos, e, a partir deles, expor a opinião de cada um — ainda mais absurda do que a teologia dos poetas.

Tales de Mileto, o primeiro a dedicar-se à filosofia natural, declarou que a água é o princípio de todas as coisas, pois tudo vem da água e tudo volta a ela. Depois dele, Anaximandro, também de Mileto, afirmou que o infinito era o princípio de tudo, pois dele tudo se origina e nele tudo perece. Em seguida, Anaxímenes, igualmente de Mileto, disse que o ar é o princípio de todas as coisas, porque dele tudo nasce e a ele tudo retorna.

Heráclito e Hipaso, de Metaponto, ensinaram que o fogo é o princípio de tudo, pois dele provém tudo e nele tudo termina. Anaxágoras, de Clazômenas, disse que as partes homogêneas são os princípios de todas as coisas. Arquelau, filho de Apolodoro, ateniense, afirmou que o ar infinito, com sua densidade e rarefação, é o princípio de tudo.

Todos esses, sucessores de Tales, seguiram a filosofia que chamaram de física.

Capítulo 4 — As opiniões de Pitágoras e Epicuro

Seguindo outra linha, Pitágoras, o samiano, filho de Mnesarco, ensinou que os números, com suas proporções e harmonias, e os elementos formados por ambos, são os primeiros princípios. Incluiu também a unidade e o binário indefinido.

Epicuro, o ateniense, filho de Neocles, disse que os princípios de todas as coisas existentes são corpos perceptíveis pela razão, sem vazio, não gerados, indestrutíveis, indivisíveis, sem formação de partes nem alteração — portanto, inteligíveis apenas pela mente.

Empédocles, de Agrigento, filho de Meton, sustentou que há quatro elementos — fogo, ar, água e terra — e duas forças primordiais: o amor (união) e o ódio (separação).

Vedes, pois, a confusão dos que são tidos por sábios entre vós, e a quem atribuís o ensino da religião. Uns dizem que a água é o princípio de tudo; outros, o ar; outros, o fogo; outros, ainda, outro dos elementos citados. Todos usam raciocínios persuasivos para sustentar seus erros, tentando provar que seu próprio dogma é o mais valioso.

Como, pois, ó homens da Grécia, pode ser seguro para quem deseja salvar-se buscar a verdadeira religião nesses filósofos, que nem sequer concordam entre si e vivem em disputas sectárias?

Capítulo 5 — As opiniões de Platão e Aristóteles

Mas talvez alguns, apegados ao antigo e profundo erro, afirmem que receberam sua religião não dos filósofos antes citados, mas de Platão e Aristóteles, tidos como os mais ilustres e completos. Dizem que estes aprenderam a verdadeira e perfeita religião.

Pergunto então: de quem, segundo vós, esses homens a aprenderam? Pois é impossível que alguém conheça coisas tão divinas sem tê-las recebido de quem já as sabia, ou que possa ensiná-las corretamente sem antes tê-las aprendido. Devemos, pois, examinar também as opiniões desses sábios — e veremos que se contradizem abertamente.

Platão, como se tivesse descido do céu e visto tudo o que há nas alturas, declarou que Deus existe numa substância ígnea.

Aristóteles, porém, escrevendo a Alexandre da Macedônia um resumo de sua filosofia, refuta claramente Platão e afirma que Deus não existe numa substância de fogo, mas em um quinto elemento, o éter, corpo imutável e celestial. Escreveu ele:

“Não, como dizem alguns que erraram sobre a divindade, que Deus existe em uma substância de fogo.”

E, para sustentar sua tese, citou como testemunha Homero, a quem o próprio Platão havia banido de sua República como mentiroso e imitador das sombras da verdade, dizendo:

“Assim falou Homero: ‘E Zeus conquistou o vasto céu no ar e nas nuvens.’”

Dessa forma, Aristóteles tentou dar crédito à sua opinião apoiando-se em Homero — sem perceber que, se Homero fosse tomado como autoridade, muitas de suas próprias doutrinas seriam falsas.

Pois Tales de Mileto, o primeiro dos filósofos, a partir de Homero, contradiz Aristóteles, dizendo que a água é o princípio de todas as coisas: tudo vem da água e tudo volta a ela. Julgou isso por observar que a semente dos seres vivos é úmida, e que as plantas crescem pela umidade e morrem sem ela.

E, não satisfeito com sua observação, cita Homero como testemunho fiel:

“Oceano, origem de todas as coisas.”

Não poderia, então, Tales dizer a Aristóteles com justiça:

“Por que, Aristóteles, dás crédito a Homero quando te convém contra Platão, mas o desprezas quando ele confirma nossas opiniões?”

Capítulo 6 — Outras divergências entre Platão e Aristóteles

Que esses vossos “sábios admiráveis” também não concordam em outros pontos é fácil de constatar. Platão ensina que existem três princípios de todas as coisas: Deus, a matéria e a forma — Deus, criador de tudo; a matéria, substrato da produção inicial de tudo o que é gerado, servindo a Deus como base para sua obra; e a forma, modelo de cada ser criado.

Aristóteles, porém, nada fala da forma como princípio, e sustenta que existem apenas dois: Deus e a matéria.

Além disso, Platão afirma que o Deus supremo e as ideias residem nas alturas do céu, em uma esfera fixa. Aristóteles, ao contrário, ensina que, depois do Deus supremo, existem certos deuses inteligíveis, não ideias. Assim, divergem sobre as coisas celestes — e quem discorda até nas coisas do alto, mostra não compreender nem as terrenas.

Também suas doutrinas sobre a alma humana se contradizem. Platão diz que a alma é composta de três partes: razão, afeto e desejo. Aristóteles, ao contrário, diz que a alma é apenas racional, sem partes corruptíveis. Platão proclama que “toda a alma é imortal”, mas Aristóteles, chamando-a de “atualidade”, afirma que é mortal. O primeiro diz que ela está sempre em movimento; o segundo, que é imóvel, pois precede todo movimento.

Capítulo 7 — Incoerências na doutrina de Platão

Além de discordar de Aristóteles, Platão também se contradiz a si mesmo. Em um momento, declara que existem três princípios do universo — Deus, matéria e forma; em outro, acrescenta um quarto, a alma do mundo.

Primeiro afirma que a matéria é eterna, depois diz que ela foi criada. Dá à forma o status de princípio autônomo, mas logo a coloca entre as coisas compreendidas pelo intelecto.

Diz que tudo o que é feito é mortal, mas depois afirma que algumas coisas criadas são indestrutíveis e imortais.

Por que, então, esses homens tidos como sábios discordam não só entre si, mas também de si mesmos? Claramente porque recusaram aprender de quem realmente sabe, e tentaram alcançar o conhecimento divino pela presunção humana, incapazes de compreender até as coisas da terra.

Alguns de vossos filósofos dizem que a alma humana está em nós; outros, que está ao redor de nós. Uns dizem que a alma é fogo; outros, ar; outros, mente; outros, movimento; outros, exalação; outros, força das estrelas; outros, número em movimento; outros, água geradora.

Assim se espalhou entre vós uma confusão sem harmonia, em que só se pode louvar um ponto: o zelo em desmentirem-se mutuamente.

Capítulo 8 — Antiguidade, inspiração e harmonia dos mestres cristãos

Sendo impossível aprender a verdade religiosa com mestres que se refutam uns aos outros, é justo recorrer aos nossos antepassados, muito mais antigos que os vossos e unânimes entre si.

Eles não ensinaram por imaginação própria, nem divergiram entre si, mas receberam de Deus o conhecimento que também nos transmitiram. Pois não é pela natureza ou pelo raciocínio humano que se conhece o que é divino, mas pelo dom celeste que desceu sobre os santos.

Esses homens santos não precisavam de arte retórica, nem de disputas, mas apresentavam-se puros ao Espírito Divino, para que o próprio Espírito, como uma harpa tocada do alto, revelasse por meio deles o conhecimento das coisas celestes.

Assim, com uma só voz e uma só fé, ensinaram-nos sobre Deus, a criação do mundo, a formação do homem, a imortalidade da alma, o juízo após a morte e tudo o que devemos saber. Em tempos e lugares diversos, transmitiram-nos a instrução divina.

Capítulo 9 — A antiguidade de Moisés provada por autores gregos

Comecemos, então, com o primeiro profeta e legislador, Moisés, e situemos seu tempo com base em autores gregos de credibilidade entre vós. Não me apoio apenas em nossas histórias sagradas, que ainda rejeitais por herança do erro antigo, mas também em vossos próprios historiadores, alheios ao nosso culto, para mostrar que Moisés foi o mais antigo de todos os mestres e legisladores.

Nos tempos de Ogiges e Ínaco, que alguns poetas gregos julgam nascidos da terra, Moisés é citado como chefe e legislador dos judeus. Assim o mencionam Polemon em seu Helênico, Apião, filho de Posidônio, em sua obra Contra os Judeus e no quarto livro de sua história, afirmando que “no reinado de Ínaco, rei de Argos, os judeus se rebelaram contra Amasis, rei do Egito, sendo guiados por Moisés”.

Ptolemeu Mendesiano, ao narrar a história do Egito, confirma o mesmo. Também o fazem Helânico, Filócoro, Cástor, Talo, Alexandre Polistor, e os escritores judeus Fílon e Josefo.

Este último, querendo destacar a antiguidade de sua narrativa, intitulou sua obra Antiguidades Judaicas, para indicar a velhice e autoridade da história.

O célebre historiador Diodoro da Sicília, que viajou por toda a Ásia e Europa e dedicou trinta anos a compilar as bibliotecas, escreveu quarenta livros. No primeiro, afirma ter aprendido com sacerdotes egípcios que Moisés foi o primeiro legislador. Suas palavras são:

“Depois do modo de vida antigo no Egito, atribuído a deuses e heróis, dizem que Moisés persuadiu o povo a viver segundo leis escritas, sendo homem de grande alma e talento político.”

E prossegue:

“Entre os judeus, dizem que Moisés atribuiu suas leis a Deus, chamado Javé, para inspirar reverência e obediência. Depois dele, Sasúnquis, Sesoncosis, Bocoris e Amasis foram legisladores do Egito, e, por fim, Dario, pai de Xerxes.”

Assim, até vossos próprios escritores reconhecem que Moisés foi o mais antigo legislador, o primeiro a dar leis justas e divinas aos homens.

Capítulo 10 — A formação e a inspiração de Moisés

Estas coisas, ó homens da Grécia, foram escritas por autores que não pertenciam à nossa religião, e que reconheceram a antiguidade de Moisés, afirmando tê-las aprendido dos sacerdotes do Egito. Entre eles, dizem que Moisés nasceu no Egito, foi adotado pela filha do rei e, por isso, recebeu toda a educação dos egípcios, sendo honrado e instruído em toda a sabedoria deles — como narram Fílon e Josefo, os mais fiéis historiadores de sua vida.

Ambos relatam que Moisés descendia dos caldeus, e que seus antepassados haviam migrado da Fenícia ao Egito por causa da fome. Deus o escolheu por sua extraordinária virtude, e o julgou digno de ser chefe e legislador de seu povo, quando quis libertar os hebreus do Egito e conduzi-los à sua terra.

A ele primeiro Deus comunicou o dom divino e profético, que então descia sobre os homens santos, e o fez nosso mestre na religião. Depois dele vieram os demais profetas, que receberam o mesmo dom e ensinaram as mesmas verdades. Esses são os mestres que seguimos — não falaram por invenção humana, mas pelo dom concedido por Deus do alto.

Capítulo 11 — Os oráculos pagãos testemunham sobre Moisés

Mas, já que ainda vos recusais a abandonar o erro antigo de vossos pais e a escutar nossos mestres, pergunto: quais dos vossos mestres julgais dignos de crédito em matéria de religião?

Pois, como disse antes, é impossível conhecer as coisas divinas sem tê-las aprendido de quem as sabe.

Como ficou provado que as opiniões de vossos filósofos estão cheias de ignorância e engano, e já que abandonastes os poetas, agora buscais refúgio nos oráculos.

Portanto, contarei algo que vós mesmos narrais:

quando alguém perguntou a um de vossos oráculos quais homens haviam sido verdadeiramente religiosos, ele respondeu:

“Somente os caldeus alcançaram sabedoria, e os hebreus, que adoram o próprio Deus, o Rei gerado de Si mesmo.”

Se, pois, confiais em vossos oráculos, e ledes em vossas histórias o que foi escrito por autores não cristãos sobre a vida de Moisés — e sabeis que ele e os profetas vieram da raça dos caldeus e hebreus —, não vos pareça incrível que Deus tenha escolhido um homem justo dessa linhagem para honrá-lo com tão grande dom e fazê-lo o primeiro dos profetas.

Capítulo 12 — A antiguidade de Moisés demonstrada

Convém ainda comparar os tempos dos vossos filósofos com o de Moisés, para que reconheçais quão recente é a vossa sabedoria.

Sócrates foi mestre de Platão, e Platão de Aristóteles. Estes viveram no tempo de Filipe e Alexandre da Macedônia, conforme mostram as Filípicas de Demóstenes e os historiadores de Alexandre, que relatam sua convivência com Aristóteles.

Logo, é evidente que Moisés é muito mais antigo que todos os vossos filósofos.

Além disso, nenhum registro grego é anterior às Olimpíadas. Antes disso, não havia história grega nem bárbara. O único relato existente era o de Moisés, escrito em letras hebraicas por inspiração divina.

O alfabeto grego ainda não existia — os próprios mestres da língua afirmam que Cadmo o trouxe da Fenícia.

O próprio Platão, em seu Timeu, confirma isso:

ele narra que Sólon, ao visitar o Egito, ouviu de um sacerdote idoso:

“Ó Sólon, Sólon, vós, gregos, sois sempre crianças. Nenhum grego é antigo de espírito. Não tendes doutrinas herdadas da tradição nem ensinamentos envelhecidos pelo tempo, porque vossos antepassados pereceram sem o uso das letras.”

Portanto, compreendei que toda a história grega foi escrita em letras recentes, e que poetas, legisladores, filósofos e oradores só puderam escrever depois da invenção dessas letras.

Capítulo 13 — A história da Septuaginta

Se alguém disser que os escritos de Moisés e dos profetas também foram redigidos em grego, leia vossos próprios historiadores.

Quando o rei Ptolomeu, do Egito, construiu a biblioteca de Alexandria, reuniu livros de todo o mundo. Ao saber que existiam antigas escrituras em hebraico, cuidadosamente guardadas, desejou conhecê-las.

Mandou vir setenta sábios de Jerusalém, versados em hebraico e grego, e lhes ordenou traduzir os livros sagrados.

Para que trabalhassem em paz e sem se influenciarem, construiu setenta pequenas cabanas junto ao Farol de Alexandria, sete estádios distante da cidade, e proibiu que se comunicassem entre si.

Quando a tradução foi concluída, verificou-se que todos haviam escrito o mesmo texto, sem divergir nem mesmo em uma palavra.

O rei, maravilhado, reconheceu que a tradução era obra divina, honrou os tradutores com presentes e consagrou os livros em sua biblioteca.

Esses fatos, ó gregos, não são fábulas. Eu próprio, tendo estado em Alexandria, vi os restos das cabanas junto ao Farol e ouvi essas tradições dos próprios habitantes.

Assim também o atestam Fílon, Josefo e outros sábios.

E se alguém disser que esses livros pertencem aos judeus e não a nós, saiba que, embora estejam preservados entre eles, são nossos por direito, pois a doutrina neles contida se refere a nós.

A Providência divina permitiu que permanecessem nas sinagogas judaicas para que, ao serem produzidos de lá, ninguém pudesse acusar-nos de falsificação, e se visse claramente que as leis escritas por homens santos pertencem à nossa fé e instrução.

Capítulo 14 — Um apelo de advertência aos gregos

É necessário, ó gregos, que contempleis as coisas futuras e considereis o juízo anunciado por todos, não apenas pelos piedosos, mas até pelos ímpios, para que não vos entregueis, sem exame, ao erro de vossos pais.

Não suponhais que, por terem eles se enganado e transmitido o engano, aquilo que vos ensinaram seja verdade. Considerai o perigo de um erro tão terrível e investigai cuidadosamente o que vossos próprios mestres afirmam.

Pois, ainda que contra a vontade, muitos deles foram inspirados por Deus em favor dos homens, especialmente os que estiveram no Egito e se beneficiaram da sabedoria de Moisés.

Quem ler, ainda que por acaso, Diodoro e outros autores, verá que Orfeu, Homero, Sólon, Pitágoras e Platão, após terem estado no Egito e conhecido a história de Moisés, mudaram suas doutrinas e começaram a ensinar sobre os deuses de modo bem diferente do que antes haviam proclamado em erro.

Capítulo 15 — O testemunho de Orfeu sobre o monoteísmo

Recordemos o que disse Orfeu, considerado o primeiro mestre do politeísmo, quando, no fim da vida, dirigiu-se a Museu, seu filho, e aos discípulos legítimos, confessando a fé em um só Deus:

“Falo apenas aos que podem ouvir com pureza:
Ó Museu, filho da lua brilhante, escuta-me.
As palavras que digo são verdadeiras.
Volta teu coração ao lugar onde habitam
a luz e o conhecimento.
Toma a palavra divina para guiar teus passos
e caminha firme no caminho reto.
Contempla o Rei único e universal,
único, não gerado, de quem tudo procede.
Tudo está aberto ao Seu olhar penetrante,
e Ele mesmo é invisível.
Presente em todas as Suas obras, ainda que oculto,
envia aos mortais tanto o bem quanto o sofrimento.
Outro rei além d’Ele não existe.”

E em outro trecho:

“Há um só Zeus, um sol, um inferno, um Baco;
e em todas as coisas há apenas um Deus.”

E ao jurar, diz:

“Juro-te pelo mais alto céu,
obra do grande Deus, o único sábio;
juro-te pela voz do Pai,
que primeiro soou quando criou o mundo.”

Essa “voz do Pai”, que ele menciona, é o Verbo de Deus, por quem o céu e a terra foram feitos, como ensinam as profecias divinas. Orfeu conheceu essa verdade no Egito, e por isso também escreveu:

“Toma a palavra divina para guiar teus passos.”

Capítulo 16 — O testemunho da Sibila

Devemos também citar a antiga Sibila, profetisa mencionada por Platão, Aristófanes e outros, que falou claramente sobre o único Deus:

“Há um só Deus não gerado,
onipotente, invisível, altíssimo,
que tudo vê, mas por nenhum mortal é visto.”

E em outro lugar:

“Desviamo-nos dos caminhos do Imortal,
e adoramos, com mente insensata,
ídolos, obras das nossas mãos,
imagens e figuras de homens mortos.”

E ainda:

“Felizes serão na terra os homens
que amarem o grande Deus sobre todas as coisas,
bendizendo-O ao comer e ao beber,
e confiando apenas em Sua piedade.
Rejeitarão todos os altares e ídolos,
feitos de pedra muda, manchados de sangue,
e contemplarão a glória do único Deus.”

Capítulo 17 — O testemunho de Homero

O poeta Homero, seguindo a forma mítica de Orfeu, mencionou muitos deuses apenas por estilo poético, para não se afastar da tradição.

Mas logo revelou sua crença em um só Deus, quando, pela boca de Fênix, disse a Aquiles:

“Nem se o próprio Deus me prometesse
tirar-me a velhice e devolver-me a juventude.”

Aqui, pelo pronome “o próprio Deus”, ele indica o Deus verdadeiro.

E em outro trecho faz Ulisses dizer aos gregos:

“O domínio de muitos não é bom;
que haja um só rei.”

Com isso demonstra que a pluralidade de deuses e governantes traz discórdia, enquanto a unidade é sinal de paz e verdade.

Capítulo 18 — O testemunho de Sófocles

Ouçamos também Sófocles, o dramaturgo, confessar o mesmo Deus único:

“Há um só Deus — em verdade, apenas um —
que fez o céu, a terra e o mar.
Mas nós, mortais, erramos no coração,
e erguemos imagens de pedra e madeira,
figuras de bronze e marfim,
oferecendo-lhes sacrifícios e ritos,
julgando fazer uma obra piedosa.”

Assim falou Sófocles, reconhecendo a vaidade dos ídolos.

Capítulo 19 — O testemunho de Pitágoras

E também Pitágoras, filho de Mnesarco, que expressou seus ensinamentos por símbolos, mostrou ter conhecido a verdade da unidade de Deus, adquirida em sua permanência no Egito.

Ao dizer que a unidade é o princípio de todas as coisas e a causa de todo o bem, ele ensina alegoricamente que Deus é um só e único.

Diz ainda que “unidade” pertence ao mundo inteligível, enquanto “um” pertence ao mundo numérico — revelando distinção entre o Divino e o material.

E ele próprio declarou:

“Deus é um; não está fora do mundo,
mas está em tudo, presente em todo o círculo,
contemplando todas as gerações,
regulando os tempos e os séculos,
sendo a luz do céu, o Pai de todos,
a inteligência e a alma viva do universo.”

Assim testemunhou Pitágoras, confirmando que Deus é um só, eterno e presente em todas as coisas.

Capítulo 20 — O testemunho de Platão

Platão, embora tenha aceitado — como é provável — a doutrina de Moisés e dos profetas sobre a existência de um só Deus, a qual aprendeu no Egito, temeu, por causa do que sucedera a Sócrates, ser também acusado diante dos atenienses por não reconhecer os deuses do Estado.

Temendo, pois, o veneno da cicuta, elaborou um discurso ambíguo sobre os deuses, escrevendo de modo que satisfizesse tanto aos que desejavam crer em muitos deuses quanto aos que inclinavam-se à fé em um só.

Assim, após afirmar que tudo o que é feito é mortal, ele também diz que os deuses foram feitos. Se Deus e a matéria são, para ele, os princípios de todas as coisas, segue-se que os deuses seriam formados da matéria — e, portanto, da mesma origem do mal, segundo o próprio Platão.

Para evitar dizer que Deus criou o mal, Platão declarou que a matéria era eterna, e sobre os deuses “gerados por Deus”, escreveu:

“Deuses de deuses, de quem eu sou o criador.”

Entretanto, reconheceu o verdadeiro Deus, pois, tendo ouvido no Egito o que Deus dissera a Moisés — “Eu sou Aquele que sou” (Êxodo 3,14) — entendeu que Deus não revelara Seu nome próprio, por ser inefável e único.

Capítulo 21 — A ausência de nome em Deus

Deus não pode ser nomeado, pois os nomes distinguem entre muitos seres — e antes d’Ele não existia ninguém que pudesse nomeá-Lo.

Ele mesmo, pelos profetas, declarou:

“Eu sou o primeiro, e fora de mim não há outro Deus.” (Isaías 44,6)

Por isso, quando enviou Moisés, não lhe revelou um nome, mas disse:

“Eu sou Aquele que é” (Êxodo 3,14),

ensinando que Ele é o Ser verdadeiro, em contraste com os que não são.

Desde o princípio, o demônio enganou o homem, prometendo:

“Sereis como deuses.” (Gênesis 3,5)

Assim nasceu a crença em deuses inexistentes. Deus, então, para curar esse erro, revelou a Moisés que Ele é o único Ser real, dizendo:

“Eu sou Aquele que é.”

Para que o líder de Israel conhecesse primeiro o Deus vivo, antes de conduzir o povo, Ele ordenou:

“Aquele que é enviou-me a vós.” (Êxodo 3,14)

Capítulo 22 — A ambiguidade estudada de Platão

Platão, tendo aprendido isso no Egito, admirou a doutrina do Deus único, mas, temendo o tribunal do Areópago, ocultou a origem mosaica de sua sabedoria.

Em seu diálogo Timeu, escreveu:

“Devemos primeiro definir o que é eterno e sem geração, e o que é sempre gerado mas nunca é.”

Não parece isso, ó gregos, o mesmo que disse Moisés — “Aquele que é” —, salvo a diferença do artigo?

Ambos falam do Deus eterno e não gerado, e Platão opõe a Ele aquilo que é gerado e perecível — isto é, os deuses criados.

Platão escreve ainda:

“O que é sempre existente é compreendido pela razão, e o que está sempre sendo gerado é percebido pelos sentidos, pois nunca realmente é, mas vem a ser e perece.”

Dessa forma, reconhece implicitamente que os deuses criados perecem.

Além disso, chama Deus não de “Criador” (ktístēs), mas de “Modelador” (demiourgós), distinguindo: o Criador faz tudo por sua própria força; o Modelador apenas molda o que recebeu da matéria — o que confirma que Platão cria na eternidade da matéria, e não na criação divina ex nihilo.

Capítulo 23 — A contradição de Platão

Alguns, desejando sustentar o politeísmo, citam Platão quando ele põe o “Modelador” dizendo aos deuses criados:

“Sendo vós gerados, não sois imortais por natureza, mas pela minha vontade vivereis eternamente.”

Mas aqui Platão se contradiz. Antes afirmara que tudo o que é feito é perecível; agora declara que o que foi feito pode ser imortal — o que é logicamente impossível.

Se toda criatura é perecível, como pode tornar-se imperecível por um decreto?

Além disso, segundo Platão, a matéria é não criada e coeterna com Deus; logo, Deus não teria poder sobre ela, e o que é não criado não pode ser dominado.

Ele mesmo reconhece isso ao escrever:

“É necessário afirmar que Deus não pode sofrer violência.”

Assim, a própria filosofia de Platão prova que o politeísmo é incoerente, e que somente o Deus único, eterno e incriado, ensinado por Moisés, pode ser verdadeiramente chamado o Ser que é.

Capítulo 24 — A concordância entre Platão e Homero

Por que, então, Platão expulsa Homero de sua República, se o próprio Homero, no diálogo entre Fênix e Aquiles, diz:

“Até mesmo os deuses não são inflexíveis”?

Homero, contudo, não se refere ao Deus supremo, criador de todos, mas aos muitos seres que os gregos chamam de deuses.

Platão, ao dizer “deuses de deuses”, reconhece que há um Deus superior a todos, exatamente como Homero, que fala da “cadeia dourada” pela qual toda força e poder são dependentes do Deus mais alto.

Homero declara ainda que os demais deuses são tão inferiores à divindade suprema que os coloca no mesmo nível dos homens, quando faz Ulisses dizer a Aquiles:

“Ele se enfurece, confiando em Zeus, e não respeita nem homens nem deuses.”

Assim, Homero, como Platão, aprendeu no Egito sobre o Deus único, e o expressa claramente: quem confia no Deus verdadeiro despreza aqueles que não existem realmente.

Quando Fênix diz:

“Nem se o próprio Deus me prometesse rejuvenescer,”
usa o pronome “próprio Deus” (Ele mesmo) para indicar o Deus realmente existente, o mesmo que os oráculos gregos reconheceram ao afirmar:
“Somente os caldeus e os hebreus encontraram sabedoria,
adorando o próprio Deus, o Rei não gerado.”

Capítulo 25 — O conhecimento de Platão sobre a eternidade de Deus

Platão critica Homero por dizer que “os deuses não são inflexíveis”, mas Homero o faz por um motivo moral: ensinar que quem espera misericórdia deve arrepender-se.

Aqueles que creem em um deus inflexível não se movem ao arrependimento, pois não esperam perdão.

Por que, então, Platão o condena, se ele próprio faz o “modelador dos deuses” ser mutável, dizendo ora que os deuses são mortais, ora imortais?

Ele se contradiz também quanto à matéria, dizendo às vezes que ela é eterna, outras que é criada.

E sem perceber, Platão repete os erros que censura em Homero, pois Homero, ao contrário, atribui fidelidade imutável ao Deus supremo:

“Jamais minha promessa falhará,
se confirmada com meu aceno.”

Platão, portanto, entrou involuntariamente em contradição, temendo os devotos do politeísmo.

E tudo o que aprendeu de Moisés e dos profetas sobre o Deus único, preferiu expressar em linguagem velada, para que apenas os de espírito reto o compreendessem.

Ele se encantou com a expressão divina “Eu sou o que é” (Êxodo 3,14) e compreendeu que ela significava a eternidade de Deus, pois o verbo “ser” abrange o passado, o presente e o futuro.

Quando escreveu que “Deus contém o princípio, o meio e o fim de todas as coisas”, chamou a Lei de Moisés de “tradição antiga”, ocultando o nome de Moisés por medo, mas reconhecendo sua antiguidade e autoridade — conforme já demonstrado por Diodoro e outros historiadores, que afirmam que Moisés foi o primeiro legislador.

Capítulo 26 — Platão e sua dívida para com os profetas

Não é de admirar que Platão tenha crido em Moisés quanto à eternidade de Deus, pois ele mesmo reconhece os profetas como os únicos homens amados por Deus.

No Timeu, escreve:

“Deus conhece os princípios primeiros das coisas, e também o homem que Lhe é querido.”

Que homens seriam esses, senão Moisés e os profetas, a quem Deus revelou Seus segredos?

Platão leu suas profecias e, tendo aprendido delas a doutrina do juízo divino, escreveu na República:

“Quando o homem sente que a morte se aproxima, teme e começa a refletir sobre o que nunca pensara antes.
As histórias do Hades, que antes zombava, agora o perturbam;
ele se examina e teme o castigo dos injustos;
o justo, porém, vive em paz, acompanhado pela doce esperança,
que é a boa companheira da velhice.”

Assim Platão adotou a doutrina profética do juízo, ainda que a disfarçasse sob o véu da filosofia.

Capítulo 27 — O conhecimento de Platão sobre o juízo final

No décimo livro da República, Platão escreve de modo ainda mais claro o que aprendeu dos profetas sobre o juízo e a ressurreição, mas o faz como se fosse um mito para evitar perseguições.

Conta a história de Er, filho de Armênio, guerreiro que, morto em batalha, voltou à vida no décimo segundo dia e narrou o que vira no além.

Ele descreve castigos e recompensas após a morte:

os tiranos e pecadores eram arrastados por anjos de fogo, ligados e lançados no Tártaro, enquanto os justos recebiam paz e alegria.

Com isso, Platão demonstra ter aprendido a doutrina do juízo e da ressurreição corporal, pois fala dos ímpios sofrendo com corpo e membros, o que implica a união da alma e do corpo após a morte.

Assim, tendo encontrado no Egito os ensinamentos dos profetas, Platão confessou — ainda que veladamente — as verdades da fé:

um só Deus eterno, a imortalidade da alma, a ressurreição dos mortos e o juízo final.

Capítulo 28 — As dívidas de Homero aos escritores sagrados

Não apenas Platão, mas também Homero, tendo recebido iluminação semelhante no Egito, escreveu sobre Tício e outros que sofriam castigos corporais após a morte. Assim, pela voz de Ulisses, ele diz:

“Ali, Tício, imenso, preso em ferros,
cobria nove campos do inferno.
Duas águias vorazes gritavam sobre ele,
rasgando o fígado imortal que sempre renascia.”

Ora, é evidente que não é a alma, mas o corpo, que tem fígado. Do mesmo modo, Homero descreve Sísifo e Tântalo sofrendo com o corpo, mostrando que conhecia a doutrina bíblica da ressurreição e do juízo corporal.

Diodoro da Sicília, historiador estimado, confirma que Homero esteve no Egito e aprendeu ali muitas coisas. Ele conta que Homero ouviu a história de Helena, que recebera de Polidamna, esposa de Teão, um remédio que “acalma toda tristeza e faz esquecer os males” — e o poeta introduziu esse episódio em sua Odisseia.

Homero também chamou Vênus de dourada, por ter visto no Egito o “templo da Vênus dourada” e a planície com o mesmo nome.

Mas o principal é que o poeta transportou para seus versos elementos das Escrituras divinas.

Inspirando-se em Gênesis, onde Moisés escreve:

“No princípio, Deus criou o céu e a terra,” (Gênesis 1,1)

Homero fez Vulcano representar a criação do mundo no escudo de Aquiles:

“Nele figurou a terra, o céu, o mar,
o sol que nunca descansa e a lua cheia,
e todas as estrelas que coroam os céus.”

O mesmo fez ao descrever o jardim de Alcínoo, imagem clara do Paraíso de Moisés — sempre fértil, florescente e repleto de frutos, com colheitas contínuas e estações perpétuas.

Também a história da torre que os homens tentaram erguer até o céu (Gênesis 11,4) é imitada na narrativa sobre Oto e Efialtes, que empilham montanhas para alcançar o Olimpo:

“Sobre o Olimpo ergueram Ossa,
e sobre Ossa, o Pelion coberto de florestas.”

Quanto ao inimigo da humanidade, lançado do céu, chamado nas Escrituras de diabo (de diabolos, “caluniador”), Homero o chama Ate, “a perdição”, e descreve sua queda:

“E, tomando Ate pelos cabelos,
jurou Zeus que jamais ela voltaria ao céu;
girando-a no ar, lançou-a à terra,
onde passou a causar males entre os homens.”

Assim, até nisso, Homero reflete o que os profetas — especialmente Isaías (14,12) — haviam ensinado sobre a queda do espírito soberbo.

Capítulo 29 — A origem da doutrina das formas em Platão

Platão, ao afirmar que a forma (eidos) é o terceiro princípio depois de Deus e da matéria, tomou essa ideia diretamente de Moisés, mas sem compreender o verdadeiro sentido.

Em Êxodo Deus diz a Moisés:

“Farás tudo conforme o modelo que te mostrei no monte.” (Êxodo 25,40)

E novamente:

“Levantarás o tabernáculo segundo o modelo que te foi mostrado.” (Êxodo 26,30)

Platão, lendo isso e sem compreender a natureza simbólica da revelação, concluiu que as formas existiam separadamente, como modelos eternos das coisas visíveis. Assim, chamou de “formas” aquilo que Moisés chamava de modelos mostrados por Deus.

Capítulo 30 — O conhecimento de Homero sobre a origem do homem

Platão errou também sobre a terra, o céu e o homem, pensando que Moisés falava de dois mundos — o visível e o inteligível.

Moisés escreveu:

“No princípio Deus criou o céu e a terra. E a terra era invisível e informe.” (Gênesis 1,1-2)

Platão entendeu que a terra “pré-existente” era uma ideia eterna, e que o céu visível era apenas cópia do “céu inteligível”.

Sobre o homem, Moisés diz:

“E Deus formou o homem do pó da terra.” (Gênesis 2,7)

Platão pensou que o “homem nomeado” existia antes do “homem formado”, o segundo sendo feito à imagem do primeiro, como cópia da ideia.

Mas Homero, conhecendo a tradição mosaica, também faz eco disso. Ele recorda o castigo dito por Deus —

“Tu és pó, e ao pó retornarás” (Gênesis 3,19) —

quando chama o corpo de Heitor de “barro mudo”:

“No barro mudo lançou ultraje, tomado de cólera.”

E Menelau, furioso, diz aos que não queriam lutar:

“Que voltem todos à terra e à água!” —

referindo-se à origem terrestre do homem.

Assim, tanto Homero quanto Platão, instruídos no Egito pelas tradições antigas, tomaram de Moisés suas ideias fundamentais.

Capítulo 31 — Outras provas do conhecimento de Platão sobre as Escrituras

De onde mais, senão das Escrituras dos profetas, teria Platão aprendido que Júpiter conduz um carro alado no céu?

O profeta Ezequiel escreveu:

“A glória do Senhor se elevou sobre os querubins;
e os querubins levantaram suas asas,
e as rodas junto deles;
e a glória do Deus de Israel estava acima deles.” (Ezequiel 10,18-19)

Inspirado nisso, Platão exclamou:

“O grande Júpiter conduz seu carro alado pelos céus.”

E de onde mais teria ele tirado a ideia de que Deus existe numa substância de fogo, senão do relato de 1 Reis 19,11-12:

“O Senhor não estava no vento,
nem no terremoto,
nem no fogo,
mas em uma brisa suave.”

Contudo, sem compreender o sentido espiritual, Platão reteve apenas a imagem do fogo e disse que Deus habita numa substância ígnea.

Assim, tanto Homero quanto Platão — instruídos no Egito — beberam da sabedoria de Moisés e dos profetas, mas a entenderam imperfeitamente, transformando em mito o que era revelação divina.

Capítulo 32 — A doutrina platônica sobre o dom celeste

Quem considerar atentamente o dom que desce de Deus sobre os santos — chamado pelos profetas de Espírito Santo — verá que Platão o anunciou com outro nome no diálogo Mênon.

Temendo nomeá-lo “Espírito Santo”, para não parecer seguidor dos profetas, Platão admite que vem de Deus, mas o chama de virtude.

No Mênon, após indagar se a virtude se ensina, se se adquire por prática, se é natural ou se vem de outro modo, conclui:

“Se conduzimos bem a investigação, a virtude não é dom natural, nem se recebe por ensino; vem àqueles a quem vem por destino divino.”

Platão, tendo aprendido pelos profetas acerca do Espírito, transfere isso à virtude.

Assim como os profetas dizem que um mesmo Espírito se distribui (cf. Isaías 11,2; Apocalipse 1,4), Platão fala de uma só virtude que se divide em quatro.

Quis evitar o nome Espírito Santo, mas indica alegoricamente o que os profetas ensinaram.

E arremata:

“Parece, pois, que a virtude vem por destino divino.
Saberemos claramente como ela vem, quando primeiro investigarmos o que é a própria virtude.”

Vedes como ele chama de virtude o dom que desce do alto, e ainda pergunta se deve chamá-lo assim ou de outro nome, receando confessar abertamente o Espírito.

Capítulo 33 — A origem platônica do início do tempo segundo Moisés

De onde tirou Platão que o tempo foi criado com os céus? Escreveu ele:

“O tempo foi criado junto com os céus; para que, surgindo juntos, juntos também se dissolvessem, se algum dia se dissolverem.”

Não foi da história divina de Moisés?

Ele sabia que o tempo nasce de dias, meses e anos.

O primeiro dia, criado com os céus, constituiu o princípio de todo o tempo — pois Moisés escreveu:

No princípio Deus criou o céu e a terra” (Gênesis 1,1);
e logo acrescentou:
Fez-se dia um” (Gênesis 1,5).

Como se designasse o todo pelo primeiro.

Platão, para não parecer adotar as palavras de Moisés, chamou o dia de tempo.

E de onde tirou a dissolução dos céus, senão dos profetas?

Capítulo 34 — Por que atribuíram forma humana a Deus

Se alguém examinar o tema das imagens, e por que os primeiros artífices deram aos “deuses” forma de homem, verá que isso veio da história divina.

Lendo:

Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” (Gênesis 1,26),
pensaram que a semelhança era de forma, e passaram a moldar deuses “à imagem” do homem.

Por que menciono isto, ó gregos?

Para saberdes que não é possível aprender a verdadeira religião com quem nada escreveu de original, mas apenas velou em alegorias o que aprendera de Moisés e dos profetas.

Capítulo 35 — Apelo aos gregos

Chegou a hora, ó gregos, de, convencidos pelas histórias seculares de que Moisés e os profetas são muito mais antigos que vossos “sábios”, abandonardes o velho engano e lerdes as histórias divinas.

NelAS não há artifício de fala, nem lisonja — marcas dos que querem roubar a verdade —, mas simplicidade de palavras, dizendo o que o Espírito Santo quis ensinar aos que desejam conhecer a verdadeira religião.

Lançai fora a vergonha e o erro inveterado, com toda a sua fanfarra vazia; cuidai do que aproveita.

Não ofendereis vossos pais, pois é provável que agora lamentem no Hades e desejem livrar-vos do que sofreram após esta vida.

Como não podeis aprender nem com eles, nem com os que professam a “filosofia” falsamente assim chamada (cf. 1 Timóteo 6,20), resta-vos renunciar ao erro e ler as profecias — não exigindo estilo irretocável (pois, na nossa religião, o essencial está nas obras, não nas palavras) —, para aprender o que vos dá vida eterna.

Os que desonram à toa o nome de filosofia confessam, ainda que a contragosto, que nada sabem, pois discordam entre si e até de si mesmos.

Capítulo 36 — O verdadeiro saber não está com os filósofos

Se filosofia é “descoberta da verdade”, como merecem esse nome os que não a possuem?

Se Sócrates, o mais sábio — como vosso oráculo atesta — confessou nada saber, como ousaram os pósteros falar das coisas do céu?

Sócrates dizia ser sábio por isto: não supor saber o que não sabe.

E sua última palavra no Areópago o confirma:

“É tempo de partirmos: eu para morrer, vós para viver;
qual o melhor, só Deus sabe.”

Ele atribuiu a Deus o conhecimento do que nos é oculto; os que vieram depois, incapazes de entender até as coisas terrenas, presumiram ver as celestes.

Aristóteles, como se as contemplasse melhor que Platão, disse que Deus está não no fogo (doutrina de Platão), mas no quinto elemento.

Queria ser crido por sua eloquência, mas morreu desonrado, incapaz de explicar sequer o Euripo de Cálcis.

Portanto, que ninguém, de juízo são, prefira a retórica desses homens à sua salvação; antes, feche os ouvidos ao canto dessas sereias e leia as profecias dos escritores sagrados.

E, se a preguiça ou a superstição herdada vos impede de lê-las, ao menos crede naquele que vos ensinou politeísmo e depois retratatou para o bem — Orfeu —, e nos demais que confessaram um só Deus.

Foi Providência divina que, ainda que a contragosto, atestassem a verdade dos profetas, para que, rejeitada a pluralidade de deuses, tivésseis ocasião de conhecer a Verdade.

Capítulo 37 — Sobre a Sibila

Podeis, em parte, aprender a verdadeira religião pela antiga Sibila, que, movida por uma inspiração divina, ensinou, em seus oráculos, verdades muito próximas das que os profetas proclamaram.

Dizem que ela era de origem babilônica, filha de Beroso, autor da História Caldeia, e que, tendo viajado de modo misterioso até a Campânia, profetizou na cidade de Cumas, a seis milhas de Báias, onde há fontes termais.

Visitamos esse lugar e vimos uma imensa basílica talhada em uma única pedra — uma obra grandiosa e admirável.

Os habitantes nos relataram, segundo a tradição de seus pais, que ali a Sibila proferia seus oráculos.

No centro da basílica há três reservatórios escavados na mesma pedra, onde, dizem, ela se purificava antes de vestir novamente o manto e retirar-se à câmara interior, também escavada na rocha, onde, sentada em um trono elevado, proclamava suas profecias.

Muitos escritores a mencionam como profetisa, inclusive Platão, no Fedro.

Platão parece tê-la considerado inspirada divinamente ao ler suas profecias, pois viu que muitas delas já haviam se cumprido.

Por isso, no diálogo Mênon, ele expressa admiração pelos profetas, dizendo:

“Aqueles a quem chamamos profetas devem ser chamados verdadeiramente divinos;
e não menos divinos são quando, possuídos por Deus, falam com acerto de muitas e grandes coisas, sem saber o que dizem.”

Essas palavras referem-se claramente à Sibila, pois, diferentemente dos poetas, que revisam seus versos, ela, ao cessar a inspiração, não se lembrava do que havia dito.

Por isso, apenas alguns metros de seus versos foram preservados.

Soube também, nesse lugar, que havia um cofre de bronze onde guardavam seus restos mortais, e que os escribas que anotavam suas palavras — sendo analfabetos — muitas vezes erravam os metros, explicando assim a irregularidade de suas composições.

Tudo isso mostra que Platão pensava nela quando disse que os profetas “falam com acerto sem saber o que dizem”.

Capítulo 38 — Exortação final

Mas, ó gregos, a verdadeira religião não está em versos métricos nem na elegância da linguagem.

Deixai, pois, de buscar perfeição literária, e ouvi com atenção as palavras da Sibila, reconhecendo os benefícios de suas profecias — pois ela anunciou claramente a vinda de nosso Salvador Jesus Cristo, o Verbo de Deus, inseparável do Pai em poder.

Assumindo a natureza humana, feita à imagem de Deus, Cristo restaurou-nos o conhecimento da fé antiga, abandonada pelos homens seduzidos pelo invejoso demônio, que os levou a adorar falsos deuses.

E se ainda duvidais da criação do homem, crede ao menos em vosso próprio oráculo, que, ao ser instado a cantar um hino ao Deus onipotente, proclamou:

“Aquele que formou o primeiro dos homens e o chamou Adão.”

Este hino, conservado por muitos, confirma a verdade que todos testemunham.

Portanto, se não preferis o erro dos falsos deuses à vossa salvação, crede na Sibila, antiga e venerável, cujos livros são conhecidos em todo o mundo.

Inspirada por Deus, ela denunciou a inexistência dos falsos deuses e anunciou com clareza a vinda de Cristo e suas obras.

Este conhecimento é o primeiro passo para compreender as profecias sagradas.

E se alguém pensa ter aprendido algo sobre Deus pelos antigos filósofos, ouça Amom e Hermes:

Amom chama a Deus de “completamente oculto”, e Hermes diz que “é difícil compreendê-Lo e impossível descrevê-Lo”.

Assim, fica claro que somente pelos profetas, instruídos pela inspiração divina, é possível conhecer algo sobre Deus e a verdadeira religião.

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Informações Adicionais

Conteúdo não revisado

Fonte

Tradução automática para o português, realizada com auxílio de ferramentas de tradução e inteligência artificial, baseada em Ante-Nicene Fathers, Vol. I: Fathers of the Second Century, editado por Alexander Roberts, D.D., e James Donaldson, LL.D., revisado e organizado por A. Cleveland Coxe, D.D. (New York: Christian Literature Publishing Co., 1885). Publicado por Kelvin Mariano para o projeto Medalius.

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