Papias de Hierápolis
Saint Festa: 22 de Fevereiro

Papias de Hierápolis

60 d.C. - 130 d.C.
Papias de Hierápolis (c. 60‑c. 130) foi um bispo que, graças à sua posição junto a testemunhas apostólicas, compilou uma obra que pretendia preservar a voz viva dos primeiros cristãos. Embora a maior parte de sua obra tenha desaparecido, os fragmentos que sobreviveram revelam informações cruciais sobre a origem dos Evangelhos, a transmissão oral da fé e a esperança escatológica dos primeiros cristãos. Seu legado permanece como um ponto de referência indispensável para historiadores, teólogos e estudiosos da crítica textual que buscam compreender como a tradição apostólica foi transmitida e recebida nos primeiros séculos da Igreja.
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Biografia

Contexto histórico e formação

Papias nasceu por volta do ano 60 d.C. na província romana da Frígia, numa região onde florescia uma comunidade cristã vibrante, centrada na cidade de Hierápolis (próxima a Laodicéia e Colossos). Essa comunidade mantinha contato direto com os apóstolos e com os primeiros presbíteros que haviam caminhado ao lado de Jesus. Segundo a tradição patrística, Papias foi “ouvinte de João” e companheiro de Policarpo, bispo de Esmirna, o que o coloca entre a primeira geração de discípulos apostólicos.

Sua formação foi essencialmente oral. Ele aprendeu das mãos de Aristion e de João, o presbítero, ambos descritos como “presbíteros que viveram com o Senhor” e que transmitiam a “voz viva” dos ensinamentos apostólicos. Papias valorizava esse testemunho direto, declarando que prefere aqueles que “ensinarem a verdade” ao invés de quem apenas fale muito.

Ministério episcopal

Por volta da metade do século II, Papias foi eleito bispo de Hierápolis. Seu pontificado coincidiu com o período em que a Igreja ainda se organizava em comunidades locais, antes da consolidação de uma hierarquia universal. Como bispo, ele se dedicou a preservar a memória dos apóstolos, a regulamentar a prática litúrgica da sua região e a escrever uma obra que reunisse os ditos do Senhor (Logia Kyriaka exegesis).

A obra de Papias

Papias escreveu cinco livros intitulados «Exposição das palavras do Senhor». O objetivo era compilar ditos, milagres e relatos dos apóstolos, bem como de testemunhas contemporâneas, em um formato que privilegiasse a tradição oral sobre a escrita. Ele mesmo afirma que sua obra “não se baseia em livros, mas na memória viva”.

Infelizmente, os livros completos não sobreviveram; só chegamos a eles por meio de fragmentos citados por Eusébio de Cesareia e por Ireneu de Lion. Os fragmentos que restam são preservados nos seguintes documentos:

  1. Fragmentos I – introdução e explicação metodológica;
  2. Fragmentos VI – relatos de milagres contemporâneos e a visão milenarista de um reino de mil anos para Cristo.

O que os fragmentos revelam

Origem dos Evangelhos

Papias relata que Mateus escreveu seu evangelho “em hebraico” e que Marcos escreveu “segundo a memória de Pedro”. Essa tradição patrística é crucial para a compreensão da autoria dos Evangelhos Sinópticos.

Tradição de João

Em um fragmento, Papias menciona João, “o teólogo”, como autor de um texto que “escreveu a verdade”. A passagem também fala da morte de João e de Tiago, embora a maioria dos estudiosos considere que o texto sofreu corrupção ou que se referia a João Batista.

Visão escatológica

Papias defendia que Cristo reinaria na terra por mil anos após a sua segunda vinda, uma posição que Eusébio descreve como “mente pequena”, mas que influenciou o pensamento escatológico de Ireneu e de outros Padres.

Milagres contemporâneos

O fragmento VI narra milagres ocorridos no seu tempo, como a ressurreição de um homem morto e a sobrevivência de um indivíduo que ingeriu veneno, demonstrando que Papias incluía relatos de eventos sobrenaturais que reforçavam a fé da comunidade.

Método e fontes

Papias divide suas fontes em três categorias:

  1. Apostólicos – relatos diretos de Pedro, João, Tiago, André e outros.
  2. Presbíteros – sobretudo Aristion e João, o presbítero, que transmitiam a tradição oral.
  3. Testemunhos de milagres – eventos sobrenaturais contemporâneos que confirmavam a veracidade da mensagem cristã.

Ele descreve seu trabalho como uma exposição das palavras do Senhor, buscando preservar a “voz viva” dos primeiros cristãos.

Importância para o estudo do Novo Testamento

A relevância de Papias reside em três pontos principais:

  1. Confirmação da autoria dos Evangelhos – sua afirmação sobre Mateus e Marcos fornece uma das primeiras evidências externas sobre a origem dos Evangelhos Sinópticos.
  2. Teste da transmissão oral – ao destacar a memória viva dos presbíteros, Papias ajuda a compreender como as tradições orais coexistiam com os escritos nos primeiros séculos da Igreja.
  3. Indicação da existência dos quatro Evangelhos – ao citar João e ao referir‑se ao “Evangelho de João”, Papias demonstra que, já no início do século II, os quatro evangelhos estavam em circulação e eram reconhecidos como Escritura.

Essas informações são citadas por Eusébio em sua História Eclesiástica (Livro III, cap. 39) e por Ireneu em Contra as Heresias, consolidando Papias como uma fonte primária para a historiografia cristã .

Controvérsias e avaliações críticas

Alguns fragmentos parecem gerar debates entre as pessoas que estudam:

  1. O relato sobre a morte de João, o teólogo, parece confuso; ao que parece o mais aceito é que houve correção textual ou que o texto original referia‑se a João Batista.
  2. milenarismo de Papias foi criticado por Eusébio como uma “mente pequena”, mas a visão escatológica permaneceu influente entre alguns círculos patrísticos.

Além disso, a perda da obra completa impede uma avaliação total da teologia papiana, limitando nosso conhecimento ao que foi preservado em citações posteriores.

Legado patrístico

Papias é frequentemente chamado de “pai dos fragmentos” porque, apesar da destruição de seus livros, seus fragmentos permaneceram como testemunho direto da tradição apostólica. Eusébio os utilizou para reconstruir a história dos primeiros bispos e a transmissão da fé, enquanto Ireneu destacou Papias como ouvinte de João e como modelo de fidelidade à tradição oral.

Obras de Papias de Hierápolis

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