Moisés de Corene
Biografia
MOISÉS DE CHORENE
Talvez o escritor mais conhecido da Armênia, chamado por seus compatriotas de “pai da história” e “pai dos estudiosos”, celebrado também como poeta, hinógrafo e gramático. Natural de Choren ou Chorni, na província de Darou, ainda jovem foi enviado por Mesrop, fundador da literatura armênia, para estudar em Edessa, Constantinopla, Alexandria, Atenas e Roma. Ao retornar, diz-se que ajudou Mesrop (407-433) na tradução da Bíblia para o armênio. A data de seu nascimento é desconhecida, mas esse fato indica que nasceu por volta do fim do século IV, e sua morte é geralmente situada no fim do século V.
São-lhe atribuídas as seguintes obras: Tratado de Retórica; Tratado de Geografia; Carta sobre a Assunção da B. V. Maria; Homilia sobre a Transfiguração de Cristo; Oração sobre Hripsínia, virgem e mártir armênia; Hinos usados no culto da Igreja Armênia; Comentários aos gramáticos armênios; e Explicações sobre os ofícios da Igreja Armênia. Sua obra mais célebre, porém, é a História da Armênia Maior, praticamente o único trabalho que preserva a história primitiva e as tradições da Armênia pré-cristã, embora, como outras histórias desse tipo, esteja repleta de narrativas lendárias e fictícias, bem como de imprecisões históricas. Divide-se em três partes:
- Genealogia da Armênia Maior, abrangendo desde as origens até a fundação da dinastia arsácida (149 a.C.);
- História do período intermediário de nossos antepassados, de 149 a.C. até a morte de São Gregório, o Iluminador, e o reinado do rei Terdates (149-332 d.C.);
- A terceira parte, até a queda da dinastia arsácida (428 d.C.).
Uma quarta parte foi acrescentada por outro autor posterior, estendendo a narrativa até o tempo do imperador Zenão (474-491). Pesquisas recentes, porém, mostraram que essa famosa História da Armênia não é obra de Moisés de Chorene.
As razões para descartar a atribuição tradicional foram bem resumidas por Dr. Bardenhewer. O autor da História da Armênia Maior chama-se a si mesmo Moisés de Chorene e afirma pertencer ao século V, ser discípulo de São Mesrop e ter escrito a pedido de Isaac (Sahak), príncipe bagrátida morto em 482. Essas declarações pessoais revelam-se pouco confiáveis por razões internas e externas. Em seu relato de vida, contradiz escritores do século V como Koriun e Lázaro de Parp. Carrière demonstrou que ele usou fontes históricas posteriores ao século VI e até ao VII, como versões armênias da Vida de São Silvestre e da História da Igreja de Sócrates. Somente a partir do século IX encontram-se traços dessa obra na literatura armênia.
Isso, contudo, não elimina a personalidade histórica de Moisés de Chorene, venerável pai da Igreja Armênia, realmente existente no século V. Lázaro de Parp testemunha a existência nesse tempo de um bispo armênio chamado Moisés e escritor ilustre. Não se sabe por que um autor do século VIII ou IX assumiu esse nome. É claro, porém, que seu intuito era glorificar a dinastia bagrátida, que, desde o fim do século VII, superava em esplendor as demais casas nobres da Armênia. Em 885, Aschot I, descendente dessa família, foi reconhecido pelo califa como rei da Armênia. Vetter conjectura que o objetivo oculto do pseudo-Moisés era preparar o caminho para a ascensão dessa casa.
Apesar de sua data tardia, a narrativa do autor é, em geral, confiável. Ele se apoia largamente em autoridades antigas, ainda que às vezes as modifique de modo caprichoso e insira suas próprias ideias; mas não se pode sustentar, como alguns fizeram, que tenha inventado essas fontes. Seus testemunhos para a história antiga da Armênia, até mesmo dos séculos II e III, eram principalmente lendas e cantos populares, sendo precisamente esse elemento lendário que dá à obra seu encanto e valor.
A Geografia e a Retórica acima citadas não são, evidentemente, obras genuínas de Moisés de Chorene, assim como a História. As três provêm do mesmo autor, como atestam tanto os manuscritos quanto critérios internos. O próprio autor indica que a Geografia é um extrato da descrição do mundo de Papo, escritor alexandrino do século IV. A Retórica, intitulada Chria nos manuscritos gregos, segue modelos como Aftônio e Teão. Os escritos menores citados aguardam exame mais minucioso quanto à sua autenticidade.
A primeira edição da História da Armênia foi publicada em Amsterdã, 1695; a segunda em Londres, com tradução latina, 1736; a terceira em Veneza, 1752; foi traduzida ao francês (Veneza, 1841) e ao italiano (idem). A melhor tradução é a de Langlois em Historiens Anciens de l’Arménie (Paris, 1867). Os padres mequitaristas de Veneza publicaram várias edições em 1827, 1843-64 etc.
Fontes: SMITH e WACE, Dictionary of Christian Biography; VETTER, Kirchenlex. VIII (1855-63); CHEVALIER, Répertoire des sources historiques du Moyen Âge (Paris, 1907).
Gabriel Oussani
Obras de Moisés de Corene
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