Mar Jacó de Edessa foi um bispo, teólogo, exegeta, gramático e historiador da Igreja Ortodoxa Síria, cujas obras marcaram profundamente a tradição siríaca do século VII.

Formação e primeiros anos

Nascido por volta de 633 na região de Edessa, Jacó recebeu a primeira educação religiosa no mosteiro de Qennesrin, onde aprendeu a ler e escrever em siríaco. Prosseguiu os estudos em Alexandria, aprofundando‑se em filosofia grega e nas Escrituras, o que lhe permitiu dominar o grego clássico — habilidade essencial para sua futura atividade de tradutor e exegeta.

Episcopado

Em 680 foi ordenado bispo de Edessa. O seu episcopado durou cerca de quatro anos, período durante o qual tentou reformar os mosteiros da sua diocese, mas encontrou forte resistência. Por isso, retirou‑se para o mosteiro de St. James de Kaysum, onde continuou a ensinar a Sagrada Escritura e a trabalhar na revisão do texto siríaco do Antigo Testamento. Após a morte do seu sucessor Habib, reassumiu brevemente o trono episcopal por mais quatro meses, mas logo regressou ao mosteiro de Tell‑‘Adda, onde faleceu em 708.

Contribuições exegéticas e teológicas

Jacó é reconhecido como um dos maiores exegetas do seu tempo. Entre as suas obras mais importantes está o Hexaemeron, um comentário sobre o livro do Gênesis, que se tornou referência para o estudo bíblico na tradição siríaca — embora a obra não tenha chegado até nós em sua totalidade. Também escreveu homilias que celebram o martírio de figuras locais, como a Homilia sobre Habib o Mártir, na qual exalta a firmeza de fé do santo diante do fogo e a vitória da verdade cristã sobre o paganismo; e a Homilia sobre Guria e Shamuna, que relata o testemunho dos dois mártires e o impacto espiritual do seu sacrifício para Edessa.

Obras litúrgicas e poéticas

Além das homilias, Jacó compôs o Cântico sobre Edessa, um canto litúrgico que louva a cidade como “Batalha da Fé” e celebra o “Bom Pastor” que guia o povo. O texto, preservado na tradição siríaca, demonstra sua sensibilidade poética e domínio da linguagem sacra. Outras contribuições litúrgicas incluem a atualização do calendário litúrgico e a elaboração de ordos para batismo e matrimônio. Ele também contribuiu para o desenvolvimento da estrutura litúrgica siríaca, tendo influenciado inclusive os hinos ligados ao Octoechos atribuído a Severus de Antioquia.

Trabalho filológico e histórico

Como gramático, Jacó compilou regras para o aramaico e o siríaco, padronizando a língua usada nas liturgias. Traduzindo obras filosóficas gregas para o siríaco, facilitou o acesso ao pensamento clássico para a comunidade cristã oriental. Historicamente, continuou a obra de Eusébio de Cesareia até 692, escrevendo sobre a história de Edessa e sobre santos locais. Possivelmente também traduziu textos apócrifos como a História dos Recabitas, segundo algumas tradições manuscritas.

Legado e veneração

A revisão da Peshitta (versão siríaca da Bíblia) realizada por Jacó garantiu maior fidelidade textual das Escrituras utilizadas nas liturgias siríacas, sendo sua influência sentida até os dias atuais. Por sua erudição e santidade, é venerado como santo na Igreja Ortodoxa Síria, com festa litúrgica celebrada em 5 de junho. A sua influência perdura nos estudos bíblicos, na liturgia e na filologia siríaca, sendo ainda objeto de pesquisa acadêmica internacional.