Saint Festa: 18 de Março

Cirilo de Jerusalém

313 d.C. - 386 d.C.
Bispo de Jerusalém e Doutor da Igreja. Famoso por suas Catequeses, instruções dadas aos catecúmenos antes e depois do Batismo, nas quais explicou com clareza a doutrina católica sobre os sacramentos, a vida cristã e o Credo. Defensor da fé contra o arianismo, enfrentou perseguições e exílios por sua fidelidade à Igreja. É lembrado como pastor zeloso, catequista exemplar e testemunha da ortodoxia. Sua festa litúrgica é celebrada em 18 de março no Ocidente e no Oriente.
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Biografia

São Cirilo de Jerusalém

Bispo de Jerusalém e Doutor da Igreja.

Nascido por volta de 315; faleceu provavelmente em 18 de março de 386.

No Oriente sua festa é celebrada em 18 de março; no Ocidente, em 18 ou 20. Pouco se sabe de sua vida. As informações vêm de contemporâneos mais jovens — Epifânio, Jerônimo e Rufo — e de historiadores do século V, como Sócrates, Sozômeno e Teodoreto.

O próprio Cirilo nos dá a data de suas Catequeses como cerca de setenta anos após o imperador Probo, ou seja, por volta de 347. Constante (†350) ainda vivia. Mader pensa que Cirilo já fosse bispo nesse período, mas geralmente se entende que era apenas presbítero.

São Jerônimo relata (Chron. ad ann. 352) que Cirilo foi ordenado sacerdote por São Máximo, seu predecessor. Após a morte deste, o episcopado foi prometido a Cirilo pelo metropolita Acácio de Cesareia e outros bispos arianos, com a condição de que repudiasse a ordenação recebida de Máximo. Ele aceitou exercer apenas o diaconato e, como recompensa dessa impiedade, recebeu a sé. Máximo havia consagrado Heráclio como sucessor, mas Cirilo, por artifícios, rebaixou-o ao presbiterato. Assim diz Jerônimo; Sócrates, porém, relata que Acácio depôs Máximo e colocou Cirilo em seu lugar.

Logo surgiu disputa entre Cirilo e Acácio, aparentemente sobre precedência e jurisdição. Em Niceia haviam sido preservados os direitos metropolitanos de Cesareia, mas também concedida dignidade especial a Jerusalém. Máximo chegou a reunir um sínodo e ordenar bispos, o que pode ter despertado a hostilidade de Acácio tanto quanto sua adesão ao Credo Niceno. Por outro lado, a ortodoxia cristológica de Cirilo talvez tenha sido a verdadeira causa dessa inimizade.

Em 357, Acácio conseguiu o exílio de Cirilo, acusando-o de vender móveis da igreja durante uma fome. Cirilo refugiou-se junto a Silvano, bispo de Taraus. Compareceu ao Concílio de Selêucia em 359, no qual triunfaram os semiarianos. Acácio foi deposto e Cirilo parece ter voltado à sua sé. Mas em 360 o imperador, descontente, expulsou Cirilo e outros moderados, que só retornaram com a ascensão de Juliano (361).

Em 367, Valente publicou decreto banindo todos os bispos restaurados por Juliano, e Cirilo permaneceu no exílio até a morte do perseguidor (378). Em 380, São Gregório de Nissa foi enviado a Jerusalém por recomendação de um concílio em Antioquia. Encontrou a fé preservada, mas a cidade dividida por facções e corrompida nos costumes.

Cirilo participou do II Concílio de Constantinopla (381), no qual Teodósio ordenou que a fé nicena, agora lei do império, fosse proclamada. Cirilo então aceitou formalmente o homoousion. Sócrates e Sozômeno chamam isso de ato de penitência. Sócrates data sua morte em 385; Jerônimo, porém, afirma que ele viveu oito anos sob Teodósio, isto é, desde 379.

Escritos

As obras conservadas incluem:

  1. Um sermão sobre a Piscina de Betesda;
  2. Uma carta ao imperador Constâncio, que descreve uma cruz luminosa no céu, do Calvário ao Monte das Oliveiras;
  3. Três pequenos fragmentos;
  4. As célebres Catequeses.

As Catequeses são um dos mais preciosos testemunhos da Antiguidade cristã. São compostas por:

  1. Um discurso introdutório;
  2. Dezoito instruções quaresmais aos catecúmenos;
  3. Cinco instruções mistagógicas, na semana da Páscoa, aos recém-batizados.

Elas trazem referências locais: a descoberta da Cruz, a posição do Calvário em relação às muralhas e a grande basílica constantiniana. Provavelmente foram pronunciadas de improviso e depois escritas. O estilo é claro, digno e lógico; o tom, sério e piedoso.

A divisão dos temas é esta:

  1. Exortação.
  2. Sobre o pecado e a confiança no perdão.
  3. Sobre o batismo e como a água recebe poder de santificar: lavando o corpo, o Espírito sela a alma.
  4. Exposição abreviada da fé.
  5. Sobre a natureza da fé.
  6. 6–18. Sobre o Credo: a monarquia de Deus e as heresias; o Pai; sua onipotência; o Criador; o Senhor Jesus Cristo; sua filiação eterna; nascimento virginal; paixão; ressurreição; ascensão; segunda vinda; o Espírito Santo; a ressurreição da carne e a Igreja Católica.

As cinco catequeses mistagógicas tratam de:

  1. As renúncias ao demônio antes do batismo;
  2. Os efeitos do batismo;
  3. A confirmação;
  4. A Eucaristia;
  5. A Missa pelos vivos e mortos.

Os ouvintes eram advertidos a guardar a disciplina arcani: não repetir nada a pagãos ou catecúmenos.

Alguns pontos adicionais aparecem: a origem mítica da Septuaginta; a popular história da fênix; e a descrição minuciosa da Missa — a lavagem das mãos do sacerdote, o ósculo da paz, o Sursum corda, o prefácio com o Sanctus, a epiclese, a transformação dos elementos pelo Espírito Santo, as orações pela Igreja e pelos defuntos, o Pai-Nosso, o Sancta sanctis e a comunhão.

Cirilo dá instruções práticas:

“Ao aproximar-se, não estendas as palmas abertas nem os dedos separados. Faz da mão esquerda um trono para a direita, forma um recipiente, e recebe o Corpo de Cristo dizendo Amém. Toca teus olhos com o Santo Corpo e santifica-os, cuidando para não deixar cair nada, pois perder uma partícula é como perder parte de teu próprio corpo. Depois da comunhão do Corpo de Cristo, aproxima-te do Cálice de Seu Sangue. Não estendas as mãos, mas inclina-te em adoração, dizendo Amém. Ao beber, toca teus lábios com as mãos ainda úmidas e santifica teus olhos, tua fronte e teus outros sentidos.”

Ele ainda exorta:

“Façamos o sinal da cruz quando comemos e bebemos, quando nos sentamos, quando vamos dormir, quando nos levantamos, quando falamos, quando caminhamos; em toda ação.” (Cat. iv, 14)

E adverte:

“Se estiveres em cidades estrangeiras, não perguntes apenas onde fica a igreja (kyriakon), pois os hereges chamam assim suas cavernas; nem perguntes apenas onde fica a Igreja (ekklesia), mas onde está a Igreja Católica, pois este é o nome próprio desta santa Mãe de todos.” (Cat. xviii, 26)

Doutrina

O credo de Cirilo parece ter sido:

“Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis.

E em um só Senhor Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus, gerado pelo Pai, verdadeiro Deus antes de todos os séculos, Deus de Deus, Vida da Vida, Luz da Luz, por quem tudo foi feito.

Que por nós homens e por nossa salvação desceu, encarnou-se do Espírito Santo e da Virgem Maria, e fez-se homem. Foi crucificado, sepultado, ressuscitou ao terceiro dia segundo as Escrituras e está sentado à direita do Pai. Virá em glória para julgar os vivos e os mortos, e seu reino não terá fim.

E no Espírito Santo, o Paráclito, que falou pelos profetas.

E em um só batismo de arrependimento para a remissão dos pecados.

E em uma só Igreja Católica.

E na ressurreição da carne e na vida eterna.”

Cirilo ensina claramente a divindade do Filho, mas evita o termo “consubstancial”, talvez para evitar equívocos. Nunca menciona o arianismo pelo nome, mas rejeita a fórmula: “Houve um tempo em que o Filho não existia”.

Ele se manteve próximo do grupo semiariano, declarando apenas que o Filho é “em tudo semelhante ao Pai”. Comunicava-se livremente com bispos como Basílio de Ancira e Eustácio de Sebaste. Para ele, o único Deus é sempre o Pai, mas afirma:

“Não dividimos a Santíssima Trindade como alguns, nem a fundimos em uma só como Sabélio.” (Cat. xvi, 4)

Cirilo nunca chama explicitamente o Espírito Santo de Deus, mas ordena que seja honrado junto com o Pai e o Filho (Cat. iv, 16). Sua doutrina não é incorreta, mas faltava a precisão das fórmulas nicenas, que ele aceitou depois.

Sobre a Eucaristia, é inequívoco:

“Já que Ele mesmo declarou sobre o pão: Isto é o meu Corpo, quem ousará duvidar? E sobre o cálice: Isto é o meu Sangue, quem ousará hesitar?”

Ele argumenta: se Cristo transformou água em vinho, não poderá transformar vinho em Seu Sangue?

O pão e o vinho não permanecem como eram, mas tornam-se Corpo e Sangue de Cristo — uma formulação que já contém claramente a doutrina da Transubstanciação.

Sobre a Confirmação, afirma:

“Assim como o pão da Eucaristia, depois da invocação do Espírito Santo, já não é pão, mas Corpo de Cristo, assim este santo óleo já não é simples, mas dom de Cristo, capaz de comunicar a divindade pelo Espírito Santo.” (ii, 4)

Cirilo cita também Pedro e Paulo em Roma como cabeças (prostatai) da Igreja. A fé deve ser provada pela Sagrada Escritura. Ele segue, como os Padres gregos em geral, o cânon hebraico do Antigo Testamento, omitindo os deuterocanônicos, mas chega a citá-los como Escritura. Do Novo Testamento, não reconhece o Apocalipse.

Edições e estudos

As obras de Cirilo foram publicadas em várias edições: Viena (1560); Paris (1564, 1608, 1720); Londres (1703); Veneza (1763); Munique (1848, 1860); Jerusalém (1867–68). Migne as reuniu na Patrologia Graeca, vol. XXXIII.

Entre os estudos:

  1. Tillemont, Mémoires, VIII;
  2. Edição de Touttée;
  3. Reischl;
  4. Acta Sanctorum, março II;
  5. Delacroix, Saint-Cyrille de Jérusalem (Paris, 1865);
  6. Mader, Der hl. Cyrillus, Bischof von Jerusalem (Einsiedeln, 1901).

(John Chapman)

Fonte

Tradução para o português realizada com auxílio de ferramentas de tradução e inteligência artificial, podendo incluir ajustes editoriais e adaptações de leitura. Baseado em The Catholic Encyclopedia, Volume 4, artigo St. Cyril of Jerusalem, escrito por Henry Palmer Chapman, (New York: The Encyclopedia Press, Inc., 1913). Publicado por Kelvin Mariano para o projeto Medalius.

Links Relacionados

https://en.wikisource.org/wiki/Catholic_Encyclopedia_(1913)/St._Cyril_of_Jerusalem

https://archive.org/details/V04CatholicEncyclopediaKOfC/

Obras de Cirilo de Jerusalém

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