Orígenes
Biografia
Origem e juventude
Orígenes nasceu em Alexandria por volta de 185. Seu pai, Leonidas, foi martirizado durante a perseguição do imperador Septímio Severo (193-211). O nome de sua mãe é desconhecido. Após a morte do pai e a perda dos bens da família, Orígenes, ainda jovem, sustentou a mãe e seis irmãos ensinando gramática e vendendo manuscritos.
Diretor da escola catequética
Com a saída de Clemente, assumiu a escola catequética de Alexandria, sendo confirmado pelo bispo Demétrio. Seu ensino atraía cristãos e pagãos. Muitos discípulos tornaram-se mártires, e Orígenes os animava na fé, embora não haja registro de que tenha acompanhado pessoalmente suas execuções. Buscou também sólida formação filosófica: estudou Platão, os estóicos e Amônio Saccas, além de aprender hebraico para aprofundar-se nas Escrituras.
Viagens e conflitos
Entre 213 e 231, viajou a Roma, Arábia, Palestina, Antioquia e Atenas. Em Cesareia, foi ordenado presbítero por Teóctisto e Alexandre de Jerusalém. A ordenação sem autorização direta de Demétrio gerou atritos, levando ao seu afastamento da escola e exílio de Alexandria. Não há, porém, registro de deposição do sacerdócio ou de condenação formal por heresia durante sua vida.
Ensino em Cesareia
Fixou-se em Cesareia, onde fundou uma nova escola. Ali formou discípulos como São Gregório Taumaturgo, autor de um famoso discurso de despedida. Sua produção literária foi imensa: escreveu o Contra Celso, o De Principiis e numerosos comentários bíblicos sobre os Salmos, João, Mateus e o Apocalipse, além de tratados como De Trinitate, De Anima e De Resurrectione. A tradição fala em seis mil escritos, mas São Jerônimo estima menos de dois mil.
Perseguição e morte
Durante a perseguição de Décio (250), Orígenes foi preso e torturado, mas permaneceu firme na fé. Enfraquecido pelos suplícios, morreu por volta de 254-255, em Tiro (ou possivelmente Cesareia). Foi sepultado com honra como confessor da fé, embora não como mártir.
Obras e legado
Entre suas maiores contribuições está a Hexapla, edição crítica monumental do Antigo Testamento em seis colunas paralelas. É considerado o “pai da exegese cristã”, pela profundidade e abrangência de seus comentários bíblicos e homilias. Sua influência marcou profundamente Padres como Atanásio, Basílio e Gregório Nazianzeno.
Embora algumas de suas especulações — como a apocatástase e a preexistência das almas — tenham sido condenadas em sínodos dos séculos V-VI, Orígenes nunca foi anatematizado em vida. A Igreja reconhece sua erudição e fidelidade à fé, e sua obra permanece referência para a compreensão da Escritura e da tradição cristã primitiva.
Origênismo
O termo origênismo designa o conjunto de doutrinas que, embora atribuídas a Orígenes ou desenvolvidas por seus seguidores, foram posteriormente reconhecidas como heréticas pela Igreja. Entre as proposições anatemiadas estão:
- Apocatástasis – a ideia de restauração universal de todas as criaturas, inclusive do diabo;
- Preexistência das almas – a crença de que as almas existiam antes da criação;
- Subordinação do Filho – a afirmação de que o Filho seria criatura e não co‑igual ao Pai.
Essas doutrinas foram condenadas nos sínodos imperiais de 543 e 553, que anatemiou quinze proposições originistas, registradas nos Acta dos sínodos e na Epístola de Eusébio de Cesareia. Embora a Igreja reconheça a enorme erudição de Orígenes e continue a utilizar sua exegese (especialmente o método alegórico) com discernimento, ela exorta os fiéis a rejeitar os pontos já anatemiados. Assim, Orígenes nunca foi anatematizado em vida; a condenação das suas doutrinas ocorreu postumamente, e a Igreja o conserva entre os Padres da Igreja, distinguindo entre o valor de sua obra e os erros teológicos que foram corrigidos.
Obras de Orígenes
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